quinta-feira, 26 de setembro de 2024

15 Citações de Manuel Bandeira: Vida, Poesia e Melancolia

Poeta  Manuel Bandeira

Manuel Bandeira
, nascido no Recife em 1886, é um dos maiores poetas da literatura brasileira. 

Ele foi um dos pioneiros do movimento modernista no Brasil e, ao longo de sua carreira, produziu obras que abordam temas profundos como a vida, a morte, a melancolia e a busca por liberdade. 

Suas poesias, muitas vezes marcadas pela simplicidade, carregam uma intensidade emocional que reverbera na alma do leitor. 

Vítima de tuberculose na juventude, Bandeira acreditava que sua doença foi o motor que o impulsionou a escrever e a abraçar a poesia. 

Suas experiências com a fragilidade da vida e seu constante diálogo com a morte fazem de sua obra um tesouro de reflexões existenciais.

15 Citações de Manuel Bandeira : Poesia que Reflete a Alma Humana.

Manuel Bandeira soube, como poucos, traduzir em palavras as angústias e os prazeres da vida. 

Através de suas poesias, ele abordou a dor, a beleza do simples, a inevitabilidade da morte e o desejo de uma vida plena. 

A seguir, vou abordar 15 de suas citações mais marcantes, com análises de cada uma e sua contextualização nas obras do poeta.


Poeta Manuel Bandeira com uma citação em destaque.

1. "Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não."
Obra: Ibidem

Essa citação reflete a visão de Manuel Bandeira sobre a separação entre corpo e alma. 

Para ele, o corpo possui uma linguagem própria, muitas vezes mais simples e direta do que a das almas, que carregam complexidades e barreiras emocionais. 

Ao tratar da intimidade, Bandeira sugere que há uma facilidade no encontro físico que a alma, por sua natureza fragmentada e cheia de conflitos, não consegue alcançar. 

A citação evoca o desejo humano de conexão e as dificuldades emocionais envolvidas nesse processo.

2. "Eu faço versos como quem chora, de desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora, não tens motivo nenhum de pranto."
Obra: Cinza das horas

Nessa citação, Manuel Bandeira expressa a tristeza que permeia seus versos, fazendo uma metáfora entre o ato de escrever e o choro. 

Seus poemas são uma forma de catarse, de liberar os sentimentos de desencanto com a vida. 

Ao mesmo tempo, ele sugere ao leitor que, se não estiver em sintonia com essa melancolia, é melhor fechar o livro. 

Cinza das horas, sua primeira obra, é repleta de um tom pessimista e nostálgico, características que acompanharam grande parte de sua produção literária.

3. "Duas vezes se morre: primeiro na carne, depois no nome."
Obra: Opus 10

Bandeira explora aqui a ideia de que a morte física não é o fim completo de uma pessoa. 

Ele acredita que morremos duas vezes: uma quando o corpo sucumbe, e outra quando somos esquecidos, quando nosso nome já não é mais pronunciado. 

Essa reflexão sobre a transitoriedade da vida e da memória perpassa diversas de suas obras, especialmente em Opus 10, uma coletânea de poemas que toca em temas existenciais.


Poeta Manuel Bandeira com uma citação em destaque.

4. "Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples."
Obra: Lira dos cinquent’anos

Nesta citação, Bandeira expressa um desejo por simplicidade, uma busca pela beleza nas pequenas coisas. 

Ao longo de sua vida, marcada pela doença e pelo isolamento, Bandeira desenvolveu uma profunda apreciação pelas experiências cotidianas e triviais. 

Em Lira dos cinquent’anos, esse sentimento aparece com força, revelando a valorização das coisas que muitas vezes passam despercebidas, mas que são essenciais para uma vida plena.

5. "A vida inteira que podia ter sido e que não foi."
Obra: Libertinagem

Essa frase emblemática de Libertinagem é uma síntese do sentimento de perda e arrependimento que permeia a vida. 

A reflexão sobre o "não vivido" traz à tona a angústia de escolhas não feitas e oportunidades perdidas.

Manuel Bandeira, com sua saúde fragilizada, muitas vezes viu a vida escapar-lhe por entre os dedos, o que transparece nesse lamento poético sobre o potencial não realizado.

6. "Vou-me embora pra Pasárgada. Lá sou amigo do rei."
Obra: Libertinagem

Talvez um dos versos mais famosos de Bandeira, "Vou-me embora pra Pasárgada" é uma fuga para um lugar utópico onde todos os desejos são realizados.

Pasárgada representa o oposto da realidade dura e limitada que ele vivia. 

Em Libertinagem, esse poema é um manifesto de liberdade, um anseio por uma vida mais plena e sem as amarras da sociedade e da doença.


Poeta Manuel Bandeira com uma citação em destaque.

7. "Ah, como dói viver quando falta a esperança!"
Obra: Cinza das horas

A desesperança é um tema recorrente na poesia de Manuel Bandeira, e aqui ele a aborda de forma direta. 

Viver sem esperança é uma dor intensa, uma ausência de perspectiva que torna a existência um fardo. 

Em Cinza das horas, Bandeira expressa a melancolia que sentiu ao longo de sua vida, especialmente durante os períodos mais graves de sua doença.

8. "Ouço o tempo, segundo por segundo, urdir a lenta eternidade, enquanto Fátima ao pó de estrelas sitibundo lança a misericórdia de seu manto."
Obra: Estrela da tarde

Aqui, Bandeira reflete sobre o tempo, que passa lenta e implacavelmente, enquanto a vida se desenrola de maneira quase imperceptível. 

A imagem de Fátima, figura religiosa, e o "pó de estrelas" evocam um sentido de espiritualidade e transcendência. 

Estrela da tarde é um poema que lida com a busca de sentido na vastidão do tempo e do universo.

9. "Quando a Indesejada das gentes chegar (Não sei se dura ou caroável), talvez eu tenha medo."
Obra: Consoada

A "Indesejada das gentes" é a morte, um tema constante na obra de Bandeira. 

Aqui, ele admite seu temor diante da incerteza sobre o que acontecerá quando a morte chegar. 

Consoada é um poema de aceitação, mas também de inquietação, onde o poeta encara sua mortalidade de maneira serena, mas com uma dose de dúvida.


Poeta Manuel Bandeira com uma citação em destaque.

10. "A existência é uma aventura, de tal modo inconsequente."
Obra: Libertinagem

Manuel Bandeira, com seu humor ácido e sua visão cética da vida, descreve a existência como uma aventura sem sentido, uma sucessão de eventos que muitas vezes parece desprovida de lógica ou propósito. 

Libertinagem, com sua irreverência, reflete essa visão de uma vida onde a racionalidade nem sempre dá as respostas que procuramos.

11. "Não aprofundes o teu tédio. Não te entregues à mágoa vã. O próprio tempo é o bom remédio: Bebe a delícia da manhã."

Nessa citação, Bandeira encoraja a não se afundar no tédio e na tristeza. 

Ele oferece o tempo como cura para as dores, e sugere que a simples beleza da manhã pode ser uma fonte de prazer e consolo. 

Essa visão otimista é uma rara exceção em Cinza das horas, obra dominada por sentimentos de melancolia.

12. "Andorinha lá fora está dizendo: Passei o dia à toa, à toa! Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa."
Obra: Cinza das horas

Aqui, Bandeira se compara à andorinha, mas enquanto ela lamenta um dia perdido, o poeta lamenta a vida desperdiçada. 

Cinza das horas revela o sentimento de inutilidade e tristeza que acompanha o poeta, que se vê preso em uma vida que, por causa da doença e das limitações, não foi plenamente vivida.

13. "Pertenço à fase heróica da tuberculose. Foi através dela que construí minha poesia. Não fiz versos por ser poeta."
Jornal: O Estado de São Paulo, outubro de 1968

Essa citação autobiográfica revela a relação direta entre a doença de Manuel Bandeira e sua obra. 

Ele via a tuberculose como um elemento que moldou sua poesia, quase como uma companheira na jornada literária. 

Essa reflexão nos mostra como a experiência de vida pessoal do autor se entrelaça com sua criação poética.

14. "Se as cores perder o João Condé, dê-se ao decorado uma condecoração: Assim, do pé para a mão, ficará Condé corado."
Obra: Idem

Aqui, vemos Manuel Bandeira brincando com as palavras e o som, mostrando sua capacidade para jogos linguísticos. 

Mesmo em versos leves, ele mantém seu estilo único, combinando humor com inteligência.

15. "Só a dor enobrece e é grande e é pura. Aprende a amá-la que a amarás um dia. Então ela será tua alegria, e será, ela só, tua ventura..."
Obra: Carnaval

Essa citação transmite a essência da dor na obra de Bandeira. 

Ele sugere que a dor, por mais dolorosa que seja, é uma parte necessária da vida e que, ao aceitá-la e amá-la, podemos transformá-la em alegria. 

Carnaval oferece uma visão mais otimista, onde a dor se torna um elemento de crescimento e transcendência.

Conclusão

Manuel Bandeira, com sua sensibilidade e olhar crítico, capturou a complexidade da condição humana através de suas poesias. 

As citações apresentadas aqui são um testemunho de sua habilidade em expressar a dor, a beleza e as nuances da vida. 

Cada verso ressoa com uma profundidade que nos convida a refletir sobre nossas próprias experiências e sentimentos. 

A poesia de Bandeira permanece relevante, lembrando-nos da importância de vivermos plenamente, mesmo diante da fragilidade da vida.

Márcia Fernandes

Veja Também :


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens mais visitadas