Manoel de Barros, um dos maiores poetas brasileiros, é conhecido por sua poesia que exalta a simplicidade, o contato com a natureza e a imaginação.
Nascido em 1916, no estado de Mato Grosso, Manoel passou boa parte da sua vida imerso na natureza do Pantanal, uma fonte inesgotável de inspiração para sua obra.
Sua escrita brinca com a linguagem, subvertendo significados e desafiando a lógica para encontrar poesia nos elementos mais triviais do mundo.
Com um estilo único, ele é capaz de transformar o ordinário em extraordinário, criando uma poética que valoriza o invisível, o imperceptível e o "não-ser".
Manoel de Barros dizia que a poesia nasce do nada, e seu trabalho é uma celebração desse "nada" que, em suas mãos, se torna um universo repleto de significados.
Suas obras são um convite para olharmos o mundo com outros olhos, aqueles que não estão "sujos pela civilização", mas que anseiam pelo retorno às origens, às árvores, às aves e à terra.
Vou abordar 15 de suas citações mais emblemáticas e refletir sobre suas profundidades.
15 Citações de Manoel de Barros: O Simples, a Natureza e a Imagem Poética
1. "Quando meus olhos estão sujos da civilização, cresce por dentro deles um desejo de árvores e aves."
Obra: Poesia Completa
Nesta citação, Manoel de Barros expressa seu desconforto com a vida urbana e sua sede por uma conexão mais íntima com a natureza.
A civilização, para ele, representa a poluição dos sentidos e da alma, enquanto a natureza traz a pureza e o reencontro com o verdadeiro eu.
A frase reflete seu desejo constante de se refugiar no silêncio das árvores e no canto das aves, longe da agitação e artificialidade do mundo moderno.
2. "Tudo o que não invento é falso."
Obra: Memórias Inventadas
Essa citação é uma perfeita representação do modo como Manoel de Barros encara a criação poética.
Para ele, o ato de inventar é a única verdade possível. O que não é inventado, o que não passa pelo filtro da imaginação, é "falso".
Em Memórias Inventadas, ele brinca com a ideia de que a infância, cheia de invenções e fantasias, é mais verdadeira do que a própria realidade.
3. "Só uso a palavra para compor meus silêncios."
Obra: Memórias Inventadas
Manoel de Barros valorizava o silêncio tanto quanto a palavra.
Para ele, a linguagem não é apenas um meio de comunicação, mas uma ferramenta para expressar o que não pode ser dito diretamente.
Seus poemas, muitas vezes, parecem ser uma forma de acessar o silêncio, de compor o invisível e o inaudível através da palavra.
4. "Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer, a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades."
Obra: Poesia Completa
Aqui, o poeta reflete sobre a ausência de significado em suas palavras e no próprio ato poético.
No entanto, ele vê no "nada" uma fonte de criação.
Para Manoel de Barros, o "nada" é fértil, profundo e cheio de possibilidades.
Sem ele, a poesia perde sua essência.
5. "Fui convidado pelas aves para ser árvore. Eu sofro preferência para pedras."
Nesta citação, Manoel de Barros explora o conceito de transformação.
Ele é convidado pelas aves a se tornar uma árvore, a se integrar completamente à natureza.
No entanto, ele prefere ser uma pedra, um símbolo de permanência e de silêncio.
As pedras, para o poeta, carregam uma sabedoria antiga e indestrutível, enquanto as árvores e aves representam a fluidez da vida.
6. "E aquele que não morou nunca em seus próprios abismos nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas não foi marcado. Não será marcado. Nunca será exposto às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema."
Obra: Poesia Completa
Manoel de Barros acredita que é necessário confrontar nossos próprios abismos e fantasmas para sermos completos.
Quem nunca mergulhou nas profundezas de si mesmo, nunca enfrentou suas fraquezas ou conheceu o verdadeiro amor, está distante da poesia.
O poema, para ele, nasce desse confronto íntimo com o desconhecido dentro de nós.
7. "Tenho o privilégio de não saber quase tudo. E isso explica o resto."
Obra: Poesia Completa
Essa frase transmite a humildade e a simplicidade com que Manoel de Barros encara o mundo.
Para ele, não saber é uma bênção, pois permite que o mistério e o encantamento continuem a existir.
O conhecimento não é o objetivo; o verdadeiro valor está na ignorância criativa, que abre espaço para a imaginação.
8. "Sou livre para o silêncio das formas e das cores."
Obra: Poesia Completa
A liberdade, para Manoel de Barros, não está no barulho e na ação, mas no silêncio e na contemplação.
Ele se sente mais à vontade em meio às formas e cores silenciosas da natureza, onde pode mergulhar em seus próprios pensamentos e criar sua poesia sem as interrupções do mundo exterior.
9. "Ao lado de um pardal o dia dorme antes."
Obra: O Livro das Ignorãças
Nessa citação, o poeta sugere que a presença simples de um pardal tem o poder de fazer o tempo desacelerar.
A imagem do dia "dormindo antes" ao lado do pássaro evoca a paz e a tranquilidade que a natureza oferece.
O pardal, uma ave comum e pequena, aqui se torna um símbolo de uma calma profunda, capaz de afetar até mesmo o tempo.
10. "Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito."
Obra: Livro sobre Nada
Manoel de Barros se posiciona como alguém que foge dos caminhos estabelecidos, das rotinas fixas.
Ele prefere ser como a água, que se adapta e flui por entre as pedras, encontrando sempre novas formas de seguir seu caminho.
A metáfora da água expressa sua visão de liberdade como algo que se encontra na fluidez e na capacidade de se adaptar.
11. "Deixei uma ave me amanhecer."
Obra: Concerto a Céu Aberto
Aqui, Manoel de Barros nos convida a pensar na manhã como algo que pode ser vivido através da experiência de uma ave.
Deixar-se "amanhecer" por uma ave sugere uma entrega completa ao ritmo e à simplicidade da natureza, como se o despertar só pudesse ser pleno ao se conectar com o mundo ao redor.
12. "Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós."
Obra: O Livro das Ignorãças
Essa citação transmite uma das principais ideias de Manoel de Barros: o valor das coisas não está em medidas objetivas, mas no encantamento que elas provocam.
O poeta rejeita as convenções do mundo racional, preferindo medir a importância de algo pela emoção que desperta, pela capacidade de nos transformar.
13. "Natureza é uma força que inunda como os desertos."
Obra: O Livro das Ignorãças
A natureza, para Manoel de Barros, é uma força avassaladora, capaz de preencher os espaços mais áridos, como os desertos.
A metáfora do deserto inundado reflete o poder transformador e imprevisível da natureza, algo que vai além da compreensão humana.
14. "As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis."
Obra: O Livro das Ignorãças
Manoel de Barros sugere que o olhar racional e lógico já não é suficiente para captar a essência das coisas.
É preciso um olhar mais poético, mais sensível, que vá além do entendimento tradicional e permita que o encantamento e o mistério voltem a fazer parte da nossa percepção.
15. "Poesia é voar fora da asa."
Obra: O Livro das Ignorãças
Essa citação define a essência da poesia para Manoel de Barros: ela é algo que ultrapassa os limites convencionais.
"Voar fora da asa" é o ato de se libertar das restrições e permitir que a imaginação e a criatividade fluam sem amarras.
A poesia, em sua visão, não precisa de lógica ou conformidade; ela deve ser um voo livre.
Conclusão
Manoel de Barros transformou o trivial em extraordinário.
Suas palavras nos ensinam a olhar o mundo com encantamento, a valorizar o silêncio, o nada e a natureza.
Suas reflexões, cheias de sabedoria e simplicidade, são um convite para nos reconectarmos com o que realmente importa: a liberdade de imaginar, a beleza da natureza e a poesia presente em cada detalhe da vida cotidiana.
Márcia Fernandes
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