Sim, há quem aposte no dito popular que preconiza "sorte no jogo, azar no amor". Ou ainda que se dar bem no trabalho implica em se dar mal no relacionamento amoroso. Será? Será mesmo que o sucesso numa área da vida determina o fracasso na outra? Será que a vida é feita de extremismos e polaridades opostas?
Não necessariamente, posso garantir. Entretanto, vale lembrar que a vida é, sim, feita de escolhas, e requer dedicação. Além disso, o equilíbrio perfeito entre todas as áreas da vida seria o ideal, sem dúvida. Porém, entre o ideal e o real existem ilusões e crenças que precisam ser encaradas com consciência e maturidade.
Se a dúvida é sobre o que investir mais e mais rapidamente (amor ou carreira), a resposta é: depende do momento. Depende dos planos. Depende do que está acontecendo. Não há melhor maneira de acertar, quando o assunto é viver, do que observar atentamente o que se passa ao nosso redor.
Não aguenta mais pensar e não encontrar a resposta? Então, pare por um instante, desligue-se da intensa demanda de compromissos, desejos, pensamentos e pressões diárias. Respire fundo e relaxe. Mergulhe para dentro de si. E simplesmente sinta. O que você quer? Não pense. Sinta! O que seu coração está pedindo? O que sua alma está sussurrando? O que seu corpo está tentando lhe contar?
Todo o seu ser é uma sinfonia perfeita e num estado de equilíbrio repleto de sabedoria. Mas eis o segredo: trata-se de uma sabedoria silenciosa, que não briga com os ruídos do mundo. Que não disputa. Que não faz força. Simplesmente é. Está aí. Disponível para quando você estiver pronto para ouvi-la, ou melhor, para senti-la. E isso significa que, em princípio, você já sabe no que deve investir mais neste momento. Apenas não está em silêncio o bastante para ouvir.
Porque assim como quem anda numa corda bamba, tendo de pender o corpo ora mais para a direita, ora mais para a esquerda, a fim de não cair, nós também, na tentativa de não deixar sucumbir nem o sucesso e nem a felicidade, nem a carreira e nem o amor, teremos de pender ora mais para um, ora mais para o outro.
E se parece tão simples, por que será que, na maioria das vezes, é tão difícil? Simplesmente porque os extremos, por mais paradoxal que sejam, nos parecem mais fáceis. E quase sempre, é a partir deles que funcionamos: ou investimos tempo e energia demais no amor, ou investimos tempo e energia demais no trabalho. Resultado? Desequilíbrio, sensação de falta, de incompetência, de frustração.
Atualmente, o que mais vemos são pessoas relativamente satisfeitas com seu trabalho, conquistando bens materiais mesmo que com um pouco de sacrifício, mas perdidas e angustiadas no que tange ao coração, ao amor. Enroladas, sem conseguir conversar, sem chegar a um consenso, sem experimentar a paz no relacionamento.
É verdade que carreira depende de questões mais objetivas e amor depende de questões mais subjetivas. Além disso, o trabalho é um caminho mais individual, enquanto que o amor é trilhado a dois. Mas a despeito dessas diferenças, a duas questões começam e terminam sempre no mesmo ponto: quanto você está disposto a se dedicar, ouvir, aprender, ceder e investir?
Lembre-se de que as paixões cheias de dramas e de "tudo ou nada" são perfeitas para as telas da tevê e do cinema, mas bem pouco eficientes na vida real. Porque na vida real, o que conta é o que você faz, o que você diz e o quanto existe de autêntico nessas ações. É assim que funciona no seu trabalho e também naquele espaço infinito e inexplicável entre os seus olhos e os olhos da pessoa que você ama!
Rosana Braga
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