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sábado, 5 de maio de 2012

A louca - Augusto dos anjos



Quando ela passa: - a veste desgrenhada,
O cabelo revolto em desalinho,
No seu olhar feroz eu adivinho
O mistério da dor que a traz penada.

Moça, tão moça e já desventurada;
Da desdita ferida pelo espinho,
Vai morta em vida assim pelo caminho,
No sudário de mágoa sepultada.

Eu sei a sua história. - Em seu passado
Houve um drama d’amor misterioso
- O segredo d’um peito torturado -

E hoje, para guardar a mágoa oculta,
Canta, soluça - coração saudoso,
Chora, gargalha, a desgraçada estulta.

Augusto dos anjos

sábado, 21 de abril de 2012

Amor e Crença - Augusto dos Anjos

Sabes que é Deus?! Esse infinito e santo 
Ser que preside e rege os outros seres, 
Que os encantos e a força dos poderes 
Reúne tudo em si, num só encanto? 

Esse mistério eterno e sacrossanto, 
Essa sublime adoração do crente, 
Esse manto de amor doce e clemente 
Que lava as dores e que enxuga o pranto?! 

Ah! Se queres saber a sua grandeza, 
Estende o teu olhar à Natureza, 
Fita a cúp’la do Céu santa e infinita! 

Deus é o templo do Bem. Na altura Imensa, 
O amor é a hóstia que bendiz a Crença, 
ama, pois, crê em Deus, e... sê bendita!


Augusto dos Anjos

domingo, 4 de março de 2012

A minha estrela - Augusto dos Anjos



A meu irmão Aprígio dos Anjos

E eu disse – Vai-te, estrela do Passado!
Esconde-te no Azul da Imensidade,
Lá onde nunca chegue esta saudade,
- A sombra deste afeto estiolado.
Disse, e a estrela foi p’ra o Céu subindo,
Minh’alma que de longe a acompanhava,
Viu o adeus que do Céu ela enviava,
E quando ela no Azul foi-se sumindo
Surgia a Aurora – a mágica princesa!
E eu vi o Sol do Céu iluminando
A Catedral da Grande Natureza.
Mas a noite chegou, triste, com ela
Negras sombras também foram chegando,
E nunca mais eu vi a minha estrela!
Augusto dos Anjos

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ao Luar - Augusto dos Anjos


Quando, à noite, o Infinito se levanta
À luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha tátil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!
Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!
Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado
Nos paroxismos da hiperestesia,
O Infinitésimo e o Indeterminado...
Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com a minha plenitude!
Augusto dos Anjos

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Versos íntimos - Augusto dos Anjos



Vês?! Ninguém assistiu ao formidável 
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te a lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável, 
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo, acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga.
Escarra nessa boca de que beija!

Augusto dos Anjos

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Insânia - Augusto dos Anjos



No mundo vago das idealidades
Afundei minha louca fantasia;
Cedo atraiu-me a auréola fulgidia
Da refulgência antiga das idades.

Mas ao esplendor das velhas majestades
Vacila a mente e o seu ardor esfria;
Busquei então na nebulosa fria
Das ilusões, sonhar novas idades.

Que desespero insano me apavora!
Aqui, chora um ocaso sepultado;
Ali, pompeia a luz da branca aurora.

E eu tremo entre um mistério escuro:
- Quero partir em busca do Passado,
- Quero correr em busca do Futuro.

Augusto dos Anjos

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Esperança - Augusto dos Anjos



A Esperança não murcha, ela não cansa, 
Também como ela não sucumbe a Crença. 
Vão-se sonhos nas asas da Descrença, 
Voltam sonhos nas asas da Esperança. 

Muita gente infeliz assim não pensa; 
No entanto o mundo é uma ilusão completa, 
E não é a Esperança por sentença 
Este laço que ao mundo nos manieta? 

Mocidade, portanto, ergue o teu grito, 
Sirva-te a crença de fanal bendito, 
Salve-te a glória no futuro - avança! 

E eu, que vivo atrelado ao desalento, 
Também espero o fim do meu tormento, 
Na voz da morte a me bradar: descansa!



Augusto dos Anjos

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