quarta-feira, 5 de junho de 2013

Com que moeda você negocia no amor? - Rosana Braga

Por sermos diferentes uns dos outros, enquanto nos relacionamos tentamos convencer o outro sobre nossas ideias e desejos. Assim é o exercício de existir. Portanto, negociar não é, em princípio, um problema ou uma ofensa. A questão, no entanto, é: com que moeda você negocia?

Em geral, é nas relações mais significativas que mais negociamos. Afinal, é nelas que os resultados mais contam para nossa alegria e satisfação ou para nossa frustração e - felizmente - aprendizado. Sendo assim, tudo começa exatamente aí: quanto você está maduro para lidar com as alegrias e também com as frustrações que fazem parte de qualquer relacionamento?

Quanto mais infantil e insegura for uma pessoa, mais ela negociará com moedas que machucam, agridem e desvalorizam o outro. Ao contrário, quanto mais amadurecida ela for, mais usará moedas que edificam, acariciam e valorizam o outro.

Sendo assim, o que você faz quando se sente contrariado ou irritado com o outro? Como você reage? Pensa antes de tomar qualquer atitude ou age impulsivamente? Deseja apenas dar o troco e provocar nele os mesmos sentimentos ruins ou olha também para si e se questiona sobre por que você está se sentindo desta forma?

Tem gente que não quer nem saber! Negocia na mesma moeda! Não atendeu o celular? Também não vou atender. Não avisou que ia sair? Também vou sair sem dar nenhuma satisfação. Tem gente que negocia no grito. Fala tudo o que vem à cabeça, em alto e bom som, geralmente exagerando, relembrando coisas do passado e esbravejando até o que não deve.

Tem gente que negocia com o silêncio. Dias sem falar com o outro. Quando ele pergunta o que está acontecendo, a resposta é tão categórica quanto incoerente: "nada"! Tem gente, em geral as mulheres, que negocia com sexo. Se o outro saiu da linha, vai pro sofá. Abstinência sexual completa!

E você, que moeda usa? Qual sua verdadeira intenção? Negocia para que os dois ganhem ou negocia para que você sempre consiga o que quer? Deseja conquistar o outro para que, juntos, cheguem a um consenso, ou cobrar, exigir e 'castigar' quando não consegue o que deseja?

Depois de anos estudando os relacionamentos, estou certa de que a moeda mais poderosa para negociações saudáveis entre pessoas é o diálogo. Falar o que você sente e pensa e, principalmente, ouvir o que o outro pensa e sente são escolhas altamente eficazes. Mas, claro, para usar esse tipo de moeda, é preciso saber o seu valor, é preciso estar crescido a ponto de reconhecer a riqueza contida nela.

Sei que nem sempre é possível conversar. Às vezes, em momentos onde os ânimos estão muito alterados, o melhor é calar. E quando nem calar for possível, que se grite, que se fale demais, que se perca as estribeiras. Mas que sempre, sempre mesmo, os dois estejam dispostos a retomar a questão e resolvê-la de modo maduro, ouvindo e considerando o outro - como ele é, e não como a gente gostaria que ele fosse.

E que, acima de tudo, ambos possam admitir sua parte no desentendimento e se desculpar, lembrando que o maior desejo é que esse encontro de amor possa servir para que se tornem mais apurados para a alegria e para o prazer. Isto é negociar sábia e amorosamente.


Rosana Braga

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