sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Não posso viver sem você - Letícia Thompson


"Não posso viver sem você. Você é toda a minha vida."
Sonhamos todos ouvir coisas assim. Sonhamos todos com um amor imenso e incondicional. Ter alguém que nos olhe com olhos cheios de amor e nos diga coisas que nosso coração anseia, coisas que nos façam sentir únicos e especiais.
Mas por detrás de tudo o que é dito há sempre uma realidade implícita. Alguém que diz ao outro frases como essas não só dá ao outro o poder sobre sua felicidade ou infelicidade, como joga nos seus ombros uma enorme responsabilidade.
Dizer a alguém: "não posso viver sem você" equivale a dizer: "se você não mais me quiser, não quero mais viver, vou me deixar morrer." Mas e se o amor dessa outra pessoa diminui, se ele acaba, se ele encontra em outros braços o que ele precisa para ser feliz? Se levar a sério o que ouviu, vai se sentir na obrigação de ficar junto de quem não pode viver sem ela. Porém, viver junto sem amor é um fardo que pode ser muito pesado a carregar. Significa renunciar à própria vida para satisfazer ao outro. E como dar felicidade se não temos a mesma para oferecer?
Não podemos dar e nem exigir da outra pessoa um amor incondicional, porque não somos eternos e a outra pessoa também não. Podemos fazer com que fiquem conosco, mas não podemos exigir que nos amem. O amor deve ser um sentimento livre e liberto. As pessoas devem ficar juntas porque se escolhem mutuamente e não porque o outro exerce pressão sobre ele de forma ou de outra.
Ninguem pode e nem deve ser a vida de ninguém, que sejam namorados, pais, filhos... porque quando essa se vai de um, o outro precisa e deve continuar vivendo, o outro precisa se reconstruir. Se uma pessoa faz da outra a sua vida e ela a perde... ela perde tudo!
Não somos todos Romeus e Julietas da vida. Embora aos nossos olhos pareça bonito um amor assim, ele não é realista e nem deve ser para nós. Quando o outro parte, que seja da vida, que seja para novas direções, devemos nós procurar continuar nossa vida e nos preparar para acolher outro amor que a vida nos reserva. Precisamos nos preparar para a eventualidade de uma nova felicidade.
Ser independente de quem amamos não significa amar menos, mas amar o bastante para respeitar que este possa respirar sem nós e nós sem ele. E render graças a Deus se essa pessoa decide compartilhar nossa vida, voluntária e feliz.
Ninguém morre sem ninguém, mas todos sobrevivem, embora cheios de marcas do vivido.

Letícia Thompson

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