quarta-feira, 25 de abril de 2012

Eu - Fernando Pessoa

SOU LOUCO e tenho por memória 
Uma longínqua e infiel lembrança 
De qualquer dita transitória 
Que sonhei ter quando criança.



Depois, malograda trajetória
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa da noite inglória,
O saber e o ousar da aliança.

Só guardo como um anel pobre
Que a todo herdeiro só faz rico
Um frio perdido que me cobre

Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inútil em que fico
Da estrada certa que não sigo. 
 Fernando Pessoa

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