sexta-feira, 16 de março de 2012

Se tu me esqueces - Pablo Neruda


Quero que saibas uma coisa.
Tu já sabes o que é:
Se olho a lua de cristal,
o ramo rubro do lento outono em minha janela,
se toco junto ao fogo a implacável cinza
ou o enrugado corpo da madeira,
tudo me leva a ti, como se tudo o que existe,
aromas, luz , metais, fossem pequenos barcos
que navegam para estas tuas ilhas que me aguardam.
Pois, ora, se pouco a pouco deixas de me amar,
de te amar, pouco a pouco, deixarei.
Se de repente me esqueces, não me procures,
já te esqueci também.
Se consideras longe e louco o vento de bandeiras
que canta minha vida e te decides a me deixar
na margem do coração no qual tenho raízes,
pensa que nesse dia a essa hora
levantarei os braços me nascerão
raízes procurando outra terra.
Porém, se cada dia,cada hora,
sentes que a mim estás destinada
com doçura implacável,
se cada dia se ergue uma flor
a teus lábios me buscando, ai,
amor meu, ai minha, em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
do teu amor, amada, o meu se nutre,
e enquanto vivas estará em teus braços e sem sair.

Pablo Neruda

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