Você já se pegou com muitos porquês circulando em seu pensamento? Todos somos rondados por aquelas perguntas infindáveis, que parecem que nunca serão respondidas. E mesmo se forem, suas respostas precisarão constantemente ser reformuladas, adaptadas.
Por quê, por exemplo, sempre valorizamos aquilo que não temos, aquilo que jamais talvez estará ao nosso alcance ou que mesmo que esteja, por enquanto ainda não é possível?
Por quê sempre o amor do vizinho, do casal amigo ou do par da novela é mais bonito que o nosso? Será que realmente estamos olhando profundamente, olho no olho para o nosso amor, e por isso mesmo não estamos sentindo os arrepios que gostaríamos?
Por quê os corpos da revista, da TV ou daquele colega de trabalho insuportável é mais bonito que o nosso, é mais saudável, atlético, vistoso? Estamos desvalorizando a perfeição e potencial físico que a nós foram dados?
Por quê o computador da vitrine da loja, o celular que saiu no panfleto do jornal ou aquele óculos que nos convida no shopping são melhores, mais bonitos e mais eficientes do que os que temos em casa? Será mesmo que exploramos todos os recursos que temos à mão ou somos sedentos pelo novo, sempre, numa angústia sem fim?
Por quê também queremos a casa da revista, a “viagem dos sonhos” ou este e aquele mimo que a propaganda insiste que merecemos? Será que não dá para se deliciar com o conforto de uma cama quentinha, lençol cheiroso e a música do cantor preferido tocando no aparelho de som? Não, queremos o iPod de última geração, embora a voz do Caetano continue a mesma.
Por quê, por quê e por quê? Eles são muitos, infindáveis. Tudo bem, sabemos que ter ambição é preciso e até necessário. Queremos sim o carro do ano, o amor mais bonito, a casa perfeita e os amigos mais bacanas. Queremos também a empresa responsável, a empregada mãezona, o MBA ou o pelo menos um título a mais que o de chefe. Mas quanto tempo não perdemos esperando pelo novo, pelo inusitado, pelo poder isso, poder aquilo? Quanto tempo não perdemos atropelando nosso dia, nossas noites, nossas amizades, nossos amores, em busca de algo que nem mesmo nós sabemos o que é?
Acho que perdemos muito nessa corrida sem rumo. Não olhamos mais fixamente para as coisas. Não olhamos mais diretamente nos olhos do nosso interlocutor. Lemos os livros das listas dos mais vendidos porque está na moda. Vamos ao cinema porque o filme é um blockbuster que a crítica diz que não podemos perder. Estouramos o orçamento porque a propaganda do cartão de crédito diz que para ser feliz é preciso atender a todos os desejos, sempre, a todo momento.
Perdemos muito tempo sim. Mas com os outros, talvez com quem nada contribui para a nossa alegria, para a nossa paz. Perdemos tempo com quem só quer nos sugar e nada nos acrescenta. Perdermos tempo teimando em ideias compradas, originadas em outras cabeças, que jamais vão entender nosso íntimo, nossa vontade, nossa verdadeira essência.
Mas ainda há o que se fazer. Sempre é tempo, dizem os sábios. Tempo de recomeçar, refletir, mudar, trilhar outros rumos, outros projetos, outros quereres. Sempre é tempo de abrir os olhos e realmente ver o quê e quem estão ao nosso redor. Olhar com o coração, com as lentes da memória, do amor. Sempre é tempo de tirar a vida daquele esqueminha ordinário que nos vendem por aí e afirmam com toda coragem ser o caminho da felicidade. Sempre é tempo de perguntar: por quê? Você já questionou algo hoje? Talvez esteja precisando dessa reflexão.
Fabiano Ferreira
sexta-feira, 23 de março de 2012
Os porquês nossos de cada dia - Fabiano Ferreira
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