Abracemos a noite
Que chega do abismo,
Instruída e calada.
Em seu peito de treva
Descansemos a alma
Tão desesperada
Contemplemos a noite
Vestida de sombra,
De tempo adornada.
Tão maternal e estranha,
Tão simples, tão deusa,
Fácil e inviolada,
Que a varanda remota
De um negro horizonte
Prolonga, admirada.
Abracemos a noite
Que tece e destece
A frágil escada.
Cecília Meireles
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