sábado, 7 de janeiro de 2012

Para se guardar um amor - Letícia Thompson

A gente nunca deveria se acostumar com o amor. Deveríamos ter sempre essa sensação de novo, novidade, como se, cada manhã, descobrindo o nascer do dia, nos extasiássemos diante do espetáculo como se ele jamais tivesse acontecido antes.

Falta cuidados com o amor, com a nobreza dele e é por isso que ele se apaga. O frio no estômago passa logo que o amor toma posse, o coração bate menos rápido com o decorrer dos dias, a saudade precisa de mais tempo para ser sentida e os hábitos se instalam.

A diferença básica entre homens e mulheres é que a primeira parte é mais racional, vê e ouve somente o que quer, se satisfaz com mais facilidade fisicamente e a segunda... ah, a segunda!... essa é a guardadora dos sonhos que faz com que muitos relacionamentos continuem até depois que o sentimento acabou.

As mulheres trazem quase sempre escondido no peito a caixinha de promessas dos primeiros encontros, dos primeiros suspiros, primeiras palavras trocadas, elas guardam datas, tentam adivinhar os desejos, se especializam em surpresas e esperam secretamente ser adivinhadas.

Algo que aprendi com o tempo foi que o amor não é um conjunto de compatibilidades, mas a aceitação das incompatibilidades. Não amamos a outra pessoa quando ela tem algo que nos agrada, mas quando o que não nos agrada torna-se menos importante, mesmo se continua a existir. O amor está na diferença do contrapeso.

É preciso, para se guardar um amor, ter-se a memória fraca para certas coisas e um coração desesperadamente atento para outras. É preciso conhecer certos detalhes e dar-lhes a devida importância, apreciar o pôr-do sol como se fosse a primeira vez e se dar as mãos como se elas nunca se tivessem separado.

Letícia Thompson

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