sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ícaro - Miguel Torga

Minhas asas humanas de poeta! 
Derreteu-as o sol da lucidez. 
Cego, abria-as ao vento 
Da inspiração 
E voava. 

Mas pouco a pouco, 
Como quem desperta, 
Dei conta da cegueira. 
E fui perdendo altura. 

Agora canto apenas 
Ao rés-do-chão da vida, 
A olhar o descampado 
Do céu azul 
Aberto à graça doutras emoções. 

E o canto é triste assim desiludido. 
Falta-lhe a perspectiva e o sentido 
Que tinha quando eu tinha as ilusões.

Miguel Torga

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