Toda pessoa aspira ser o que ainda não é, ou ter o que ainda não tem. Nas sociedades materiais, possuir bens e sair do sufoco terrível de ter que viver pensando na casa, na roupa, e na velhice, é uma das aspirações do homem médio.
Na sociedade de consumo, o índice de subida e de progresso pessoal é medido, pela capacidade de consumir. "É" mais, quem pode consumir mais. A variedade e diversificação da capacidade de consumir determina formas objetivas e subjetivas de valorização da pessoa.
Assim sendo, o mundo dos que consomem com fartura passa a ser um mundo invejado, aspirado, desejado, ansiado. Ele representa o nível de aspiração dos que estão abaixo na escala social, sobrevem um impulso saudável de "subir". Mas também aumentam a cobiça e a inveja.
Cada pessoa sabe ter uma possibilidade de ascensão. A maioria conhece os limites dessa possibilidade. Muitos, porém, os desconhecem e passam a vida tentando atingi-lo. Alguns (raros) o conseguem e passam a coonestar a possibilidade de todos fazerem o mesmo, utopia que se ocorresse mudaria a sociedade, alterando as suas divisões e subdivisões sociais.
O hindu Baghwan Shree Rajneesh dizia que a grande fonte de aflições humanas é o tornar-se. O homem abandona o próprio ser e as disposições básicas de seu temperamento e vontade para tornar-se algo, ser alguém. Por isso sofre.
O tornar-se transforma (transtorna?) o indivíduo num eterno insatisfeito, num eterno buscador do que ainda não tem e nunca terá pois sempre quererá mais. O tornar-se é a fonte de todas as aflições do homem e das sociedades porque aos poucos passa a ser a razão da vida. Esta, deixa de ser a capacidade de viver o momento e o novo o que nele (momento) existe (e insiste), para ser uma eterna preparação para algo sempre além.
O tornar-se (substituindo a grandeza maior do Ser) constitui-se na causa principal da angústia contemporânea porque coloca objetivos sempre fora, sempre além, sempre adiante, impedindo o homem de viver o que se lhe é dado com a plenitude só possível a quem compreende que a eternidade é o instante que passa.
É difícil para a cabeça ocidental conceber essa atitude budista de repúdio ao tornar-se. Toda a dinâmica de qualquer dos sistemas do Ocidente, religiosos ou políticos, tem por base a necessidade de superação do homem; o permanente esforço para atingir patamares novos e mais altos. Nesse sentido, a ânsia por tornar-se seria a própria mola propulsora do progresso. Assim pensa o Ocidente.
A tese da sociedade de consumo, é, pois, esta: excitando o desejo de consumir, será obtido um consumo maior e assim crescerá a produção. Crescendo esta, haverá mais emprego, melhores salários e as pessoas realizarão esforços extraordinários em trabalho e estudo para obter uma valorização maior.
Esse esforço coletivo, impulsionado pelos desejos individuais, determinará o progresso e a gradual democratização da sociedade pelo equilíbrio natural das oportunidades, segundo os méritos e o valor (sempre diferentes) de cada pessoa. É verdade: mas a um alto preço existencial.
Artur da Távola
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
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