segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Será que digo Eu Te Amo? - Rosana Braga
Uns 20, 30 anos atrás, em geral nem os pais costumavam declarar com todas as letras o quanto amavam seus filhos. Amavam, sim. E muito! Mas não diziam. Apenas demonstravam, na maioria das vezes! Entre os casais, então, o tão esperado "eu te amo" costumava ser dito e repetido somente na fase da paixão, e olhe lá... digamos, com excessiva cautela.
Olhar nos olhos de alguém e dizer "eu te amo" costumava equivaler como selar um compromisso. A pessoa teria que, de fato, "tornar-se responsável por quem cativou", como imortalizou Saint Exupery em seu maravilhoso livro "O Pequeno Príncipe".
Mas como sabemos, as gerações se complementam, a cultura é dinâmica e os tempos mudam. Hoje, essa declaração chega a ser quase como um cumprimento diário, em muitos casos. Os adolescentes, então, esfuziantes que são, não se cansam de se declarar aos amigos, ficantes e namorados todo o amor que têm pra dar!
Há quem considere essa prática um abuso, sem sentido e sem consistência. "Banalizaram os sentimentos", justificam-se os mais críticos e reservados. Em alguns casos, pode até ser... mas não apostaria nesta conclusão, assim, tão precipitadamente.
Claro que tem gente que fala sem sequer imaginar como é que se sente e, principalmente, como é que se pratica o amor de verdade. Essas pessoas, sim, certamente estão desconsiderando a profundidade e responsabilidade que o amor pede. E quando é assim, concordo: é preciso um tantinho de pudor com o amor, porque é coisa séria!
Por outro lado, embora seja coisa séria, também acredito que deva ser coisa leve, gostosa, espontânea, fluida. E sendo assim, talvez não precisemos resistir tanto às declarações - embora devamos, sim e sempre, fazê-las de modo sincero e consciente, sabendo o que estamos dizendo.
Resumindo: é possível amar muito mesmo! E que bom que seja assim! Mas vale lembrar que uma declaração, quando feita em alto e bom som, toca o outro e gera nele uma expectativa (ou várias!). O modo como você diz "eu te amo" pode ser compreendido de diversas formas, dependendo de quem ouve.
Portanto, mais do que ficar julgando a quantidade de vezes que as pessoas têm declarado seu amor, penso que o importante é sugerir uma reflexão: além das palavras, de que forma temos demonstrado amor? Temos sido pacientes e tolerantes com nossos amados? Temos ouvido o que eles dizem e nos interessado pelo que eles sentem? Temos nos disponibilizado para fazê-los felizes?
Imperfeitos que somos, certamente cometeremos erros, mesmo amando. Mas se nos tornarmos e nos mantivermos atentos agora, hoje, durante o maior tempo que conseguirmos, talvez consigamos compreender que dizer "eu te amo" é como colocar um lindo laço sobre um presente. Muito bom! Mas o presente sempre é o que somos. E somos, fundamentalmente, o que fazemos, muito mais do que o que falamos! Tal qual, sabiamente, escreveu Ralph Waldo Emerson: "O que você faz fala tão alto que não consigo escutar o que você diz".
Rosana Braga
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