Talvez haja homens que sejam os mesmos com todas as mulheres, mas eu duvido. Uma das grandes experiências humanas é perceber – no olhar, na conversa, na cama – que estamos diante de uma pessoa diferente e que tudo mudou. Os velhos hábitos não valem. Os truques de sedução e as fórmulas de reconciliação têm de ser redescobertas. É preciso começar de novo – por isso cada paixão faz de nós pessoas diferentes.
Mas essa não é a percepção geral das mulheres.
Tente explicar à sua nova namorada que você não é exatamente o sujeito que ela olhava de longe e de quem ouviu falar pela rádio peão. Tente dizer a ela que, para o bem ou para o mal, com ela você é outro sujeito: menos atrevido, menos engraçado, menos imprevisível, talvez. Ao mesmo tempo mais romântico, mais leal, sexualmente mais intenso.
Experimente contar a ela que o sexo cinco estrelas (e um Big-Bang) a que ela está se acostumando não existia dois meses atrás, quando você a conheceu. Diga que a máquina sexual em que você se transformou, (cheia de energia, audácia e imaginação), estava guardada num porão há 30 anos, esperando que ela entrasse na sua vida. Conte a ela que você nunca foi um fauno e que agora está surpreso com a temperatura a que água tem chegado.
Ao dizer essas coisas, ao sair do seu casulo de reclusão masculino e admitir que você não é super-homem na ausência dela, talvez você se depare com a incredulidade. “Ah, você diz isso pra todas”, algumas respondem. Pois eu garanto, meninas, que não é assim. Nem todas as mulheres que passam pela vida de um homem ouvem esse tipo de confissão. Quando o sujeito, depois de um tempo de convívio (e de romper várias camadas de intimidade), usa a frase mágica – “Com você é diferente” – acredite nele. Há uma chance enorme de que seja verdade.
O sujeito tem de ser emocionalmente muito burro, quase uma anta, para não se deixar tocar pela diferença. Imagine o cara que transa de um certo jeito com Maria e faz do mesmo jeito com Joana e Tereza. Ele pode ser muito bom de serviço, mas, se entregar sempre a mesma mercadoria, no mesmo pacote, na casa de várias mulheres diferentes, vai deixar várias delas insatisfeitas. E passar por autista. Eu não consigo imaginar algo que precise ser mais à la carte do que sexo.
Claro, cada um de nós, homens e mulheres, repete padrões íntimos. Temos um repertório emocional e físico que tende a reaparecer. Há um estilo e um sotaque na forma de transar, na forma mesma de se relacionar. Isso é parte da nossa personalidade, que vai se definindo com o tempo e com a experiência. Mas essa coreografia sexual não é imutável, algo que se execute independentemente da parceira. Cada transa – ou cada pessoa – tem sua própria música, e o nosso corpo se adapta a ela, se souber escutar. O bom sexo talvez seja o encontro de dois ritmos intimamente compatíveis, ainda que diferentes entre si.
Num mundo como o nosso, em que se transa com muita gente, não é fácil cultivar a afinidade. Hoje é com João, daqui a pouco é com Antônio, dentro de alguns dias, quem sabe, com José. Não dá tempo para descobrir compatibilidades que não sejam instantâneas. Não se consegue avançar além do óbvio, não se passa da arrebentação. Pode ser gostoso, mas tende a ser parecido e superficial. Cada um entra em campo com as fórmulas que trouxe do passado e se protege atrás delas. Primeiras transas revelam muito pouco, no máximo dão pistas. Quem fica sempre na primeira transa não passa da ante-sala dos outros e de si mesmo.
A conversa em que o sujeito admite que nunca teve um sexo tão gostoso só aparece lá na frente. Requer tempo, relaxamento, entrega. O cara (ou a garota) precisa perceber que está diante de algo especial, e tem de ter espaço para contar. Não é tão fácil nos dias que correm. As relações são muito rápidas e as pessoas ficaram duras. Muitas não querem escutar, não querem saber. Uma declaração de amor – ou uma declaração de prazer – põe o outro na sua vida. Para alguns, pode ser uma intimidade intolerável.
Se você não é assim, se você abriu a porta para que o seu namorado entrasse, dê crédito quando ele disser que você é única. Acredite quando ele, com cara de menino, contar que nunca foi tão gostoso, nunca foi tão intenso, nunca foram tantas vezes num mesmo fim de semana. Aceite o fato que, apesar da fama de safado e da óbvia competência que ele exibe, você é especial para ele – embora nem sempre você mesma se sinta muito especial. Uma das vantagens de se viver no século 21, neste pedaço do planeta em que homens e mulheres são relativamente livres, é poder andar por aí e descobrir, depois de muitas tentativas e alguns erros, uma chave que combina melhor com a sua porta – um corpo, uma voz e um desejo que parecem ter sido feitos para você. Quando isso acontecer, avise. Quando ouvir a mensagem, acredite. A felicidade não é permanente, mas existe.
Ivan Martins (Revista Época)
Nenhum comentário:
Postar um comentário