sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Canção de alta noite - Cecilia Meireles



Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... — enquanto consente
Deus que a noite seja andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar — somente.
Não necessita de nada.



Cecília Meireles

Um comentário:

  1. Andar é um ato simples e às vezes torna os pensamentos claros como a água...Belo poema, pra finalizar a sexta-feira com suavidade. Um abraço, feliz Natal!
    www.revoltaeromance.blogspot.com

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