quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O cego e a guitarra - Fernando Pessoa



O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo: cada coisa é sua
Oiço: cada som é consigo.

Sou como a praia a que invade
Um mar que torna a descer.
Ah, nisto tudo a verdade
É só eu ter que morrer.

Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada
Ao meu conceito perdido
Como uma flor na estrada.

Cheguei à janela
Porque ouvi cantar.
É um cego e a guitarra
Que estão a chorar.

Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo
A fazer ter dó.

Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.

Fernando Pessoa

Um comentário:

  1. Boa noite querida amiga Marcia como de costumes nos abrilhantando com poemas lindos que nos faz refletir sobre quem somos e porque estamos neste espaço olha mais uma vez te parabenizo e sou seu etrno fã beijos de seu sempre amigo gato vadio ops kkk pcjanuaria.

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