quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Definitivo



Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
 e não se cumpriram.

Sofremos por quê?
 Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
 pelas nossas projeções irrealizadas,
 por todas as cidades que gostaríamos
 de ter conhecido ao lado do nosso amor
 e não conhecemos, por todos os filhos
 que gostaríamos de ter tido junto
 e não tivemos, por todos os shows
 e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
 pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho
 é desgastante e paga pouco,
 mas por todas as horas livres que deixamos
 de ter para ir ao cinema, para conversar
 com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe
 é impaciente conosco, mas por todos
 os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais
 profundas angústias se ela estivesse
 interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu,
 mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos,
 mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim
 que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos
 e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer,
 apenas agradecer por termos conhecido
 uma pessoa tão bacana, que gerou em nós
 um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?
 A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço
 de que o desperdício da vida
está no amor que não damos,
 nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
 e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.... 

Emílio Moura

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