quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Alegoria - Abgar Renault



Em vão busco acender um diálogo contigo: 
a alma sem tom da tua boca de água e vento 
despede cinza, névoa e tempo no que digo, 
devolve ao chão o meu mais longo pensamento, 

e entre cactos estira esse deserto ambíguo 
que vem da tua altura ao vale onde me ausento, 
procurando o teu verbo. O silêncio, investigo-o, 
e ouço o naufrágio, o vácuo e o deperecimento. 

Sonho: desces a mim de um céu de algas e rosas, 
falas às minhas mãos vozes vertiginosas, 
e palavras de flor no teu cabelo enastro. 

Desperto: pairas ainda em silêncio e infinita: 
meu ser horizontal chora treva e medita 
tua distância, teu fulgor, teu ritmo de astro. 

Abgar Renault
In Sonetos antigos

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