"Fique calado e evite conflitos", dizem.
Mas e quando o silêncio não é sinal de paz, e sim de sufocamento?
Quantas vezes você já engoliu palavras que queriam saltar da sua garganta?
Quantas vezes permitiu que algo que te incomodava passasse despercebido apenas para evitar desgastes?
O problema de se calar constantemente é que, enquanto o mundo segue em frente, você fica preso dentro de si mesmo, carregando o peso do que nunca foi dito.
Viver em sociedade requer adaptações, é claro.
Não é sobre dizer tudo o que vem à mente sem filtros ou empatia, mas sim sobre encontrar coragem para dar voz às suas emoções e necessidades.
Guardar o que te incomoda é como acumular pequenos grãos de areia dentro de um sapato: no início, você suporta.
Depois de um tempo, o incômodo se torna insuportável.
O silêncio, nesse contexto, não é uma solução; é um problema disfarçado.
Por que nos calamos?
Há várias razões: medo de rejeição, de julgamentos, de conflitos.
Aprendemos desde cedo a buscar aceitação, e falar sobre o que nos incomoda pode parecer uma ameaça a essa aceitação.
É mais fácil sorrir, fingir que está tudo bem e seguir adiante.
Mas o custo desse comportamento é alto.
A longo prazo, o silêncio consome nossa autoestima, nos faz sentir invisíveis e cria um abismo entre quem somos e como nos apresentamos ao mundo.
Quando você se cala diante do que te incomoda, não está apenas evitando uma conversa desconfortável; está negando a si mesmo o direito de ser ouvido.
Expressar o que sentimos não é um ato egoísta, mas sim uma necessidade humana fundamental.
Suas emoções são válidas, seus pensamentos importam, e sua voz merece ser ouvida.
Não se trata apenas de reivindicar espaço, mas de viver de forma autêntica.
A autenticidade, aliás, é um dos pilares de uma vida plena.
Ser autêntico significa alinhar suas ações e palavras aos seus valores e emoções.
Quando você reprime o que sente, está sabotando essa conexão consigo mesmo.
Isso gera um desconforto interno que pode se manifestar de várias maneiras: ansiedade, estresse, insatisfação.
Falar, por outro lado, é um ato de libertação.
Não significa que tudo será resolvido imediatamente, mas é um passo essencial para transformar o que incomoda em algo que pode ser superado.
Claro, dar voz ao que te incomoda não é uma tarefa fácil.
Exige coragem, prática e, muitas vezes, enfrentamento.
O medo de como o outro reagirá é real, mas vale lembrar que você não tem controle sobre as reações alheias.
O que você pode controlar é a maneira como escolhe se expressar.
Falar com clareza, respeito e empatia aumenta as chances de que sua mensagem seja recebida de forma positiva.
Mesmo assim, nem sempre haverá concordância, e tudo bem.
Nem todas as conversas são para resolver; algumas são apenas para desabafar e criar espaço para o entendimento.
E o que dizer das vezes em que o silêncio é imposto?
Existem contextos em que somos ensinados, explicitamente ou não, a nos calar.
Isso acontece em relações abusivas, ambientes de trabalho tóxicos ou situações onde nossa voz é ignorada ou desvalorizada.
Nessas circunstâncias, a luta para se expressar é ainda mais desafiadora, mas igualmente importante.
Não se calar mais é, nesses casos, um ato de resistência e autoafirmação.
Não é fácil, mas é necessário.
Uma forma de começar a romper com o hábito de se calar é praticar a autoescuta.
Antes de falar com os outros, fale consigo mesmo.
Pergunte-se: "O que realmente está me incomodando? Por que isso me afeta tanto? O que eu espero ao expressar isso?"
Essas perguntas ajudam a organizar seus pensamentos e a entender suas próprias emoções.
Saber o que sente é o primeiro passo para conseguir expressar esses sentimentos de forma clara e eficaz.
Outra ferramenta poderosa é a assertividade.
Ser assertivo significa comunicar seus pensamentos e sentimentos de maneira direta e respeitosa, sem ser passivo ou agressivo.
É uma habilidade que pode ser desenvolvida com prática e que facilita muito o processo de se expressar.
Além disso, é importante lembrar que não estamos sozinhos.
Há sempre alguém disposto a ouvir, seja um amigo, um familiar ou um profissional.
Buscar apoio é um ato de coragem, não de fraqueza.
Ter um espaço seguro para desabafar pode ser transformador e encorajar ainda mais a prática de não se calar.
As mudanças que ocorrem quando começamos a nos expressar são profundas.
Relacionamentos se tornam mais autênticos, a autoestima cresce e a sensação de alívio é palpável.
Você começa a perceber que, ao dar voz ao que te incomoda, está tomando o controle da sua vida.
A comunicação não é apenas uma forma de se conectar com os outros, mas também consigo mesmo.
Portanto, não se cale mais com o que te incomoda.
Permita-se sentir, falar, reivindicar seu espaço.
E, entre essas vozes, a sua é essencial.
Falar é um ato de coragem, de amor-próprio e de transformação.
Ao se expressar, você não está apenas enfrentando o que te incomoda; está mostrando ao mundo, e a si mesmo, que merece ser ouvido.
Márcia Fernandes
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