Todo mundo sofre. Uma hora ou outra, dói. Não há quem escape. Uns sentem mais, outros menos. Mas todos sofrem. Ah, sofrem, sim.
Há os que demonstram pouco, quase nada, e isso não quer dizer que
também não amarguem uma perda aqui, uma separação ali, uma decepção
acolá. E há os que escancaram seu pesar com a honestidade de um
alto-falante. Tem gente que grita sua queixa muito mais alto que o
volume da dor que sente. Também tem aqueles que sofrem não pela tristeza
da perda, do fim, do adeus, mas pela incompreensão do fato, pela
dificuldade de aceitar que algo acabou.
E tem ainda aquela gente que sente tanto, mas sente tão fundo, que
nem tem força para sair por aí berrando seu desespero. Então se fecha e
chora baixinho até passar a dor.
Cada um de seu jeito, todo mundo sofre. Paciência. Estamos todos na fila para renovar nosso visto de permanência na vida.
Talvez esteja aí a menor distância entre cada um de nós. Nossa divina
capacidade de sofrer, deixar para trás e seguir em frente. Em cada um
de nós essa arte se manifesta de um jeito, em seu tempo. Porque somos
diferentes, digerindo misérias diversas.
Tão chato quanto quem nos enfia suas alegrias goela abaixo, “eu sou
mais feliz que você”, é quem insiste em nos castigar com suas desgraças,
“eu sou mais triste que você”. Aí não basta nos mostrarmos solidários,
bons ouvintes. É urgente sermos tão desgraçados quanto aquele a quem
tentamos consolar. Sentimento estranho.
Lá pelas tantas, vem um de nós e escancara seu infortúnio em nossa
cara, como quem diz “olha só o meu brinquedo, ele é maior do que o seu”.
Em sua lógica perversa de exigir que todos reconheçam sua penúria e
padeçam a seu lado, recusa o apoio simples, a mão estendida, o ombro
vago. E agride, ataca, machuca quem estiver perto para provar que sua
dor é mais sofrida.
Quanto engano. Dor nenhuma é pior que outra. Pessoais e
intransferíveis, nossas dores podem ser consoladas, jamais comparadas ou
transferidas. E a vida não é um concurso de sofrimentos.
Todo mundo sofre nessa vida. Sofre o rico e sofre o pobre, o mocinho e
o bandido, o patrão e o empregado, homens e mulheres, crianças e
velhinhos, heteros e gays, enrustidos e assumidos, pretos, brancos,
vermelhos e amarelos, solteiros e casados, sozinhos e enturmados, cães e
gatos, moscas e lagartixas, joaninhas, tatus-bola, lesmas e minhocas,
as formigas, as girafas e os elefantes. Todos nós sofremos.
E sofre mais, sofre ainda mais quem acha que “o amor não acaba assim
ou assado”. Esse padece em dobro. Primeiro pela falta do amor que se
foi, depois com a descoberta de que a verdade sobre o coração alheio não
lhe pertence. Sofre como qualquer um de nós. Ah, sofre, sim.
André J. Gomes
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Não, nós não somos melhores que ninguém e nossa dor não é pior que a do outro - André J. Gomes
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