quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Morre-se por... Ita Portugal

Com o tempo as pessoas vão morrendo. A morte do corpo, chega para todos em algum momento da vida. Todavia, alguns em vida, agregam outras mortes que exalam odores duvidosos e mata a existência num piscar de olhos. Morre-se por causa do egoísmo. Por exagero de pudor. Pela bisbilhotice aguda que lança mentiras. Pelas preocupações desnecessárias que enruga a alma. Pelas críticas ácidas que não constroem nada. 
Morre-se pela avareza. Pelo tédio. Pela displicência. Em meio a névoas das paisagens, morre-se pela cegueira de não enxergá-las. Morre-se prematuramente pela falta de encarar a vida com simplicidade. Morre-se por falsas deduções. Por exagero de ocupações. Morre-se pelo tédio. Pela falta de perdão. Por abortar os sonhos com a extrema realidade. Pela falta de coragem para o enfrentamento das situações adversas. 
Morremos diariamente pelo excesso de formalidade. Por vivermos espremidos em ideias e códigos estúpidos. Pelo preconceito que afasta todos os outros e subtrai a tolerância e o respeito. Pelos incômodos adereços supérfluos que nos faz pensar em superioridade. Pela covardia silenciosa que nos faz abandonar o outro em seu apocalipse solitário. 
Morre-se de autoflagelamento pelas erros involuntários. Afogado nas lembranças sem permitir seguir em frente. Pela desarmonia interior. Pelo imenso falatório e a falta do exercício de prática. 
Morre-se por subtrair afeto, somar intrigas, multiplicar dores. 
Embora vivo, morre o tolo, o arrogante, o impiedoso, o fútil, o preguiçoso, o irado. E nessa equação, morre quem vive de tarja preta para a vida, sem necessariamente precisar morrer o corpo. 

Ita Portugal


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