segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Ao sal - Fernando Campanella


"Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria."
(Pablo Neruda)

Nega-me tua alma –
esta alma, mesma, que me furtas

e é ao degredo irremediável
que me remetes.

Nega-me tua chama
que arde no delírio dos deuses,
teu anjo, que ressona na fluidez dos lagos,
tuas asas desdobradas,

nega-me, nega-me tua espuma
que regurgita no sonho das aves
(eu sou o teu infante pássaro)

e é sem minhas fontes que me deixas,
sem meu ar extasiado.

Nega-me teu mar, tua tempestade,
o sonho e a fantasia,
e me deixas ao relento, ao sal amargo
de cada dia.

Nega-me teu olhos e já não me atento

que a felicidade embora utopia das sombras
é também certa luz incidente
que só de teu olhar
meus olhos como cúmplices pressentem.

Fernando Campanella

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