À sombra doce das moças em flor,
gosto de deitar para descansar.
É uma sombra verde, macia, vã,
fruto escasso à beira da mão.
A mão não colhe... A sombra das moças
esparramada cobre todo o chão.
As moças sorriem fora de você.
Dentro de você há um desejo torto
que elas não sabem. As moças em flor
estão rindo, dançando, flutuando no ar.
O nome delas é uma carícia
disfarçada.
As moças vão casar e não é com você.
Elas casam mesmo, inútil protestar.
No meio da praça, no meio da roda
há um cego querendo pegar um braço,
todos os braços formam um laço,
mas não se enforque nem se disperse
em mil análises proustianas,
meu filho.
No meio da roda, debaixo da árvore,
a sombra das moças penetra no cego,
e o dia que nasce atrás das pupilas
é vago e tranquilo como um domingo.
E todos os sinos batem no cego
e todos os desejos morrem na sombra,
frutos maduros se esborrachando
no chão.
Carlos Drummond de Andrade
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