Não posso ser o melhor amigo dos meus filhos, mas realizar uma oposição criativa.
Tenho que dizer coisas desagradáveis que nenhum melhor amigo diz, como “tá na hora de tomar banho!”, “acabou o tema?”, “não volta tarde”, “põe o casaco”.
Sou pai, necessito orientar, não concordar sempre e falar amém para aventuras.
Não quero mesmo que meus filhos contem tudo, quero que saibam que podem me contar tudo.
Não preciso saber seus segredos para que eles tenham confiança em mim.
Que possam manter um pouco de sua intimidade até longe de mim para que eu não fique toda hora opinando.
Ser pai é um papel difícil, é segurar o sim, é segurar o não, jamais temer tomar partido.
Pai não fica em cima do muro, é o muro.
É limitar as vontades, ser determinado, firme.
Sem meio-termo: errar e pedir desculpa, acertar e comemorar.
Não posso ser legalzinho. Pai legalzinho demais tem culpa no cartório. Tem medo de perder o filho e faz todas as vontades dele. Fazer todas as vontades do filho é perder o filho.
Posso ser legal. Isso sim. Legal. Filhos vão gostar de mim e vão me odiar.
Vão gostar de mim me odiando.
E preciso permitir que os filhos me odeiem. Que me critiquem. Que me xinguem.
Para eles poderem me superar, ser melhor do que eu.
Que falem mal de mim nas costas. Mas nas costas. Que é preciso ter educação até para falar mal. Falar mal do pai é unir os irmãos - eles têm um assunto em comum.
Passarão vergonha com meu amor. Gritarei gol durante os jogos da escola, contarei piadas sem graça para seus amigos. Terão orgulho também de mim. Quando algum professor perguntar o que eles são do Carpinejar.
Pai é passar da idade, é envelhecer para o filho entender que é de outra geração.
— Não viu essa banda no Youtube, pai? Que bizarro...
Pai é a honestidade da lembrança. É a franqueza do gesto. É a responsabilidade.
Assumir o que se vive, não ficar procurando culpados.
Ser pai é dar a cara ao tapa esperando o beijo.
Fabrício Carpinejar
Adorei!!!!
ResponderExcluirBjs ♥ amiga!