sábado, 4 de agosto de 2012

Amor parcelado - Fabrício Carpinejar


Nunca segui a ordem natural das coisas: eu já casei no segundo dia, noivei com dois anos de relação e hoje estou namorando a esposa.

Fiquei com a minha mulher desde a primeira noite e não desgrudei mais. Não consegui sair de perto. Fracassei ao abrir a porta, mas abri todas as janelas. Arejei minha cabeça.

Ela é um vício que só me deu virtudes.

Respeito os casais tradicionais, que namoram primeiro, em seguida realizam o noivado e, após um bom tempo, sobem ao altar. Trocam a aliança da mão direita para a esquerda devagar e só casam com a residência pronta, totalmente mobiliada, com conta no azul, sem riscos de sofrimento.

Mas eu sou do segundo time. Eu caso para depois ver o que fazer. Caso sem nada dentro da residência. Dependo apenas de um colchão no chão e da mesa dos joelhos para apoiar o prato.

É somar as pobrezas e brincar com as dificuldades.

É começar retirando os rótulos do copo de requeijão até desempacotar cálices de cristal.

Um ajudando o outro, um fortalecendo o outro.

É lindo o relacionamento que não usa desculpas e adiamentos. Vai de qualquer jeito.

É lindo festejar - pouco a pouco - cada compra. Comemorar os pequenos aumentos.

Lembro quando compramos o armário do quarto e dividimos os espaços das gavetas.

Lembro quando compramos a televisão 39 polegadas e atravessamos a madrugada assistindo filmes com pipoca.

Lembro quando compramos um carro e ninguém queria ser o primeiro a dirigir com medo de bater.

Lembro de tudo o que tem em casa, como foi, onde foi, e o que significa.

Meu amor é parcelado. As parcelas de meu amor são infinitas.

Fabrício Carpinejar

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