A vida me faz pensar na morte. A linha é tão tênue. O que nos separa do outro lado é um quase nada. Coisa pequena. Somos frágeis, pequenos perto desse mundão. Valorizamos nosso corpo quando algo ruim nele se instala. Uma enfermidade, uma simples dor de cabeça ou um câncer raro.
Infelizmente, o ser humano valoriza tudo que tem quando se vê em uma encruzilhada. A possibilidade de perder algo ou alguém é o que nos faz ter medo. O beijo que você deu em quem ama pela manhã pode ter sido o último. Mas, ocupados e cegos, não paramos para pensar nisso. Posso morrer ao atravessar a rua. Posso descobrir uma doença incurável. Posso sofrer com dores avassaladoras. Ou posso viver muitos e muitos anos sem valorizar quem tenho na vida.
Não é à toa que quem fica muito doente passa a enxergar a vida com outros olhos. Olhos mais puros, talvez. Olhos mais francos, certamente. Olhos mais vivos, pode crer. Quem adoece não quer perder um segundo. Quer amar, conhecer o outro e a si mesmo, deixar algo para os dias que virão. Me pergunto: temos que sofrer para aprender? Não podemos valorizar o simples e o comum sem dor?
Por que você não se preocupa com o outro, com o mundo, com a sua saúde física e mental, com a sua alma, com a natureza e com tudo que te cerca hoje? Por que uma tragédia precisa acontecer para você dar importância para as coisas? Por que você não pensa que pode ajudar as pessoas doando sangue? Por que você não pega uma cartinha nos Correios e ajuda uma criança? Por que você não diz para a sua família que quando morrer quer doar seus órgãos? Por quê?
A gente precisa, com urgência, deixar o egoísmo de lado. Olhar para a vida e enxergar o que está ao nosso redor de fato. Sem véu, sem máscara, sem make up. Olhar nu, olhar cru, olhar limpo. E entender que a luta é diária. Que nem sempre é fácil viver. Que tropeços virão, sim. Que apesar de tudo vale a pena. E que a gente não precisa aprender da forma mais difícil e dolorosa.
Clarissa Corrêa
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