terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A (falsa) santa - Clarissa Corrêa


Tenho horror de quem não se respeita. Independente do sexo, da religião, da cor, do sorvete preferido, do tom de voz. Acho que a gente tem a obrigação de respeitar a própria imagem, o próprio corpo, a própria alma. Respeitar o amor-próprio, pois ele precisa do maior cuidado.

Conheço pessoas de todos os tipos. Sei reconhecer direitinho quando uma mulher precisa se auto-afirmar a todo instante. Chega a ser patético. Tem mulher que dá em cima de tudo que se mova e tenha pau (desculpem a finesse). Não estão nem aí se o cara usa uma aliança ou tem namorada. Não estão nem aí se usam aliança ou se são comprometidas. Não estão nem aí para nada. Gostam apenas de provocar, de fingir uma ingenuidade, de forçar uma pureza.

Já fui solteira. Já curti muito a vida. Já aproveitei bastante. Já fiquei com quem tive vontade. Já fiz e aconteci. Mas eu era solteira, não devia nada pra ninguém. Nunca me traí, muito menos dei motivo para algum lado meu se constranger. Sempre respeitei minhas escolhas, meu corpo, a educação que tive. Já aprontei, sim. Já bebi muito, já dei show, já tive ressaca moral. Já fiz tudo que um adolescente faz, já fiz tudo que uma mulher solteira faz. Sempre com prudência, afinal, o mundo é bem redondo e o que a gente faz hoje é visto e lembrado amanhã. Acho que a gente deve se preocupar com a nossa imagem, não pelos outros, mas pra dormir tranquila.

Não gosto de quem se faz de santa, de prestativa, de solícita, de legal. Não gosto de quem fala miando, se finge de sonsa, faz caras e bocas. Não gosto de gente artificial, que tem duas caras, dois jeitos, dois comportamentos. Sou a favor da transparência, de gente de verdade, sem retoques, sem artifícios. Tenho pavor de mulher fingida. Que se finge de morta, mas no fundo rebola o tempo todo, faz cara de atriz pornô pra ser notada e depois diz que ah-é-meu-jeito-sou-assim. Tenho pavor de mulher que se insinua o tempo inteiro e depois diz não-entendo-porque-todo-mundo-olha-pra-mim. Pavor.

Tem mulher que perde a linha. Com esse tipo, perco o rebolado. Quase esqueço a classe em casa. É que gente de mentira me tira do sério. Além disso, tenho horror de biscate. Acho que no fundo são todas perdidas, infelizes, coitadas, mal amadas. Precisam de atenção 24 horas. E esquecem que pra gente ter atenção de verdade precisa, em primeiro lugar, ser verdadeira. Com a gente mesma.

Clarissa Corrêa

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