quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Elegia número onze - Mário Quintana

Não, não é uma série de pontos de exclamação
- é uma avenida de álamos...
E o que, e para quem, clamariam então?!
Deserta está a cidade.
Todas as avenidas, todas as ruas, todas as estradas, atônitas
se perguntam se vêm ou se vão...
Em nada lhes poderiam servir esses postes de quilometragem:
estão apenas desenhados, como num mapa.
Ah, se houvesse uns passos, ainda que fossem solitários...
Se houvesse alguém andando sozinho... e bastava! São os passos
- são os passos que fazem os caminhos.
Deserta está a cidade.
Se houvesse alguém andando sozinho
- para ele se acenderiam então, como um olhar, todas as cores!
Porque a cidade está cega, também.
O que não é visto por ninguém
não sabe a cor do aspecto que tem.
A cidade está cega e parada a descor de um morto.
Porque tudo aquilo que jamais é visto
- não existe...

Mário Quintana

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