quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Gente Fina - Martha Medeiros



Gente fina é politicamente correta? Se for, não sou gente fina, porque fico muito impaciente com certas cortesias exageradas. Por exemplo, outro dia estava no aeroporto e uma voz no alto-falante convidou a embarcar os passageiros da melhor idade. Se eu tivesse cem anos, entenderia que todos deveriam passar na minha frente. Que melhor idade? Claro que alguém pode estar mais satisfeito aos 80 anos do que quando tinha 40, mas isso é levar em conta o específico. Na hora de generalizar, sejamos menos franciscanos. Milhares de pessoas idosas têm a cabeça ótima e estão realizadas, mas se tiverem bom humor, vão dispensar o consolo: pô, melhor idade é provocação.

O mesmo sobre magros e gordos. Cada um faz o que bem entender com o próprio corpo. Comer com liberdade é um direito e ninguém tem que se sacrificar para atender a um padrão estético, mas que ser magro é melhor do que ser gordo, é. Pra saúde é melhor, pra se vestir é melhor, pra se locomover é melhor, pra dançar é melhor. Não quer dizer que um gordo não seja feliz. Geralmente, são felizes à beça, mais do que muito varapau. Mas se fosse possível escolher entre ser magro e ser gordo sem nenhum efeito colateral de felicidade ou infelicidade, sem nenhum esforço, só no abracadabra, todo mundo iria querer ser magro, assim como todo mundo preferiria se cristalizar entre os 30 e os 50 anos. Eu acho. A não ser que eu esteja louca, o que é uma hipótese a considerar.

Porém, melhor que tudo é ser gente fina. Finíssima. Isso nada tem a ver com a tendência atual de ser seca, de parecer um esqueleto ambulante. Gente fina é outra coisa.

Gente fina é aquela que é tão especial que a gente nem percebe se é gorda, magra, velha, moça, loira, morena, alta ou baixa. Ela é gente fina, ou seja, está acima de qualquer classificação. Todos a querem por perto. Tem um astral leve, mas sabe aprofundar as questões quando necessário. É simpática, mas não bobalhona. É uma pessoa direita, mas não escravizada pelos certos e errados: sabe transgredir sem agredir. Gente fina é aquela que é generosa, mas não banana. Te ajuda, mas permite que você cresça sozinho. Gente fina diz mais sim do que não, e faz isso naturalmente, não é para agradar. Gente fina se sente confortável em qualquer ambiente: num boteco de beira de estrada e num castelo no interior da Escócia. Gente fina não julga ninguém – tem opinião, apenas. Um novo começo de era, com gente fina, elegante e sincera. O que mais se pode querer? Gente fina não esnoba, não humilha, não trapaceia, não compete e, como o próprio nome diz, não engrossa. Não veio ao mundo pra colocar areia no projeto dos outros. Ela não pesa, mesmo sendo gorda, e não é leviana, mesmo sendo magra. Gente fina é que tinha que virar tendência. Porque, colocando na balança, é quem faz a diferença.


Martha Medeiros
Fonte: Jornal “Zero Hora” nº. 15763, 19/10/2008.

2 comentários:

  1. Elegância é tudo, não amiga!!!?
    Principalmente a elegância da alma, aquelas pequeninas coisas voltada às gentilezas e sutilezas que só quem é dotado de interioridade aprimorada consegue ter...
    Isso é quase um estigma que se recebe ao nascer... Não se compra, já é nato!
    Não está associado às classes sociais.
    Independe de dinheiro...
    Linda mensagem.
    Beijinhos

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  2. Olá minha querida amiga Márcia, boa noite!!!
    Belo texto minha amiga, adorei!!!
    Minha amiga, adoro os texto de Martha Medeiros, ela é sempre muita verdadeira e contundente em seus escritos, usa sempre de muita sabedoria sem frescuras para demonstrar o que quer transmitir... Gente fina é aquele amigo que chega de mansinho em nossa vida e ocupa um lugar bem grandão em nosso coração, é feliz e transmite muita segurança, equilíbrio e paz... é o amigo escolhido pela alma.
    Parabéns pela excelente postagem, adorei!!!
    Tenha uma noite maravilhosa e abençoada!!!
    Abraços com carinho e muita paz!!!

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