domingo, 23 de fevereiro de 2014

De Urubu a Pombo-Correio - Fabrício Carpinejar

Fofoqueiro não tem cura.

Fofoqueiro não tem conversão.

Fofoqueiro não tem saída.

Se um amigo cria uma fofoca, é perda de tempo tentar convencê-lo de que é errado, que prejudica a confiança, que estraga a convivência, que ele não desfruta do direito de sair revelando indiscriminadamente aquilo que é absolutamente confidencial.

Não desperdice sua lábia. Não gaste seu sotaque.

Ao dar um sermão ao fofoqueiro, é bem capaz dele inventar fofoca do sermão. E ainda propagar aos colegas e familiares que você cometeu uma grande injustiça e quebrou a lealdade.

Todo fofoqueiro se faz de vítima, não assume seu problema e joga a culpa no colo dos outros.

Seu tipinho é facilmente reconhecível. Usa expressões como “nunca”, “jamais”, “imagina”. Jura por Deus e pela sua mãe sem nenhum pudor, sem nenhum receio das consequências. Responde uma pergunta com nova pergunta. Costuma se mostrar surpreso e fingir desconcerto quando questionado: “Eu?”.

Aviso aos persistentes e esperançosos: o fofoqueiro não tem conserto.

É pedir segredo que o fofoqueiro abre o bico. Parece gostar de viver perigosamente. Confia apenas em sua impunidade, desprezas as evidências e pistas.

Mesmo calado, espalhará confidências de algum jeito: por indiretas, código morse, telepatia. Arrumará um jeito de contar. Sua incontinência verbal é criativa. Sofre de incompetência para manter a palavra quieta, debaixo das pedras. Pois acredita no tráfico de informações. Atua como um lobista amador, um falso conselheiro. Cria sua importância por aquilo que ficou sabendo.

Eu desisti da salvação de fofoqueiros. É uma igreja infernal.

O que faço é me aproveitar deles. Eu direciono o fofoqueiro para meus objetivos. Profissionalizo o fofoqueiro. Treino o fofoqueiro. Faço do urubu um pombo-correio.

Como não posso dissuadi-lo a abandonar sua natureza, repasso o que desejo que seja conhecido. Ofereço um alvo. Exponho algo com minha clara intenção que vire fofoca, suplicando por reserva e para que não fale para ninguém. Ele não resiste a um cochicho, a uma conversa no pé do ouvido, e logo dissemina a história.

Em vez de trabalhar de graça para a fama do fofoqueiro, o fofoqueiro passa a trabalhar para mim.

Fabrício Carpinejar

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