terça-feira, 17 de abril de 2012

A solidão do corpo - Affonso Romano de Sant'Anna

Na solidão,
o corpo pode gritar
ou fincar-se como um mastro,
que nem a dor e o alíseo vento
lhe trarão de volta a chave.

Nada há de pélagos e escarpas
no senho do que se esculpiu de trevas,
antes,
é liso e verde como um fruto inteiro.

Parece que dorme.
Há desalinho nos braços e cabelos.
As partes
despojadas sobre o branco pasto do lençol.

Parece de pedra
com sua andadura móvel nas calçadas
e um senho opaco em meio às roupas.

Um corpo só,
é como fruto na pirâmide:
- não vinga.

Se queima em seus desertos
e arde suas dormências,
mas não conhece reflexo.

É opaco
como se alheio às artimanhas nos telhados,
aos veludos na calçada
e alheio à luva sobre a chave.

Um corpo só,
é duro como a rocha
que não se penetra de espadas,
que não se penetra de falas,
que não se penetra de asas.

A um corpo só,
nem raios lhe abrem o riso,
nem seus cabelos dão ninhos.

Um corpo só,
é quando amadurece a própria morte.

Affonso Romano de Sant'Anna

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens mais visitadas